sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Do Morfema Zero.

Devemos, primeiramente lembrar o que é um morfema e um morfe. Morfema é a menor unidade significativa, tendo o morfe como manifestação material do morfema. Agora para entendermos o morfema zero fica mais fácil, pois ele acontece quando há ausência do morfe, porém sem excluir a presença do morfema manifestada apenas pelo sentido da palavra, ou seja, é uma espécie de morfema subentendido, implícito.
Peguemos como exemplo o verbo "levar" conjugado no presente do indicativo no quadrinho abaixo, presente na frase "o que eu levo?". 
Em lev-o temos a presença da raiz lev- e a desinência número-pessoal -o, que por elisão tira a vogal temática -a-. Porém não há a presença material da desinência modo-temporal para representar o presente do indicativo, e este continua presente no significado do verbo flexionado "levo". Aqui e desinência modo-temporal deste tempo é o morfema zero. 
Há a presença de morfema zero como marca numero-pessoal, da primeira e terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo. Conjuguemos o verbo "enganar" presente no segundo quadrinho para este tempo.

Engana-va- morfema zero.
Engana-va-s 
Engana-va- morfema zero. 
Enganá-va-mos
Enganá-ve-is  
Engana-va-m

-va- é a desinência modo-temporal. -s,-mos,-is e-m são as desinências numero-pessoais da segunda pessoa do singular, da primeira, segunda e terceira pessoa do plural respectivamente. Não tendo marca a primeira e  terceira pessoa do singular, fica sendo o morfema zero a desinência número-pessoal de ambos. 

Também podemos consideram o morfema zero presente nos alomorfes de plural. Pois para além dos casos em que acrescenta-se /-s,-es,-is/ existe o caso de palavras que possuem o s em seu final, como ônibus. 
Ora a única diferença perceptível entre ônibus, singular, para ônibus, plural é a presença do contexto como em: 
O ônibus atrasado / Os ônibus atrasados, porém o sentido de plural atribuído ao termo da segunda frase é justamente a presença do morfema zero. 

Bibliografia:
Petter, Margarida Maria Taddoni. "Morfologia" em Introdução à Linguística II: princípios de análise/ José Luiz Fiorin. 4.ed., 3ª reimpressão - São Paulo: Contexto, 2010.

Dos Processos Morfológicos

Os processos morfológicos são modos de combinações diferentes de elementos mórficos que produzem um novo signo linguístico. Há nestes processos algo de parecido com as operações matemáticas como veremos a seguir. 
Temos o processo de Adição que, como numa soma matemática, um morfema é acrescentado ao valor (significado) de outro morfema, este sendo a base (raiz ou radical), ou seja, o elemento mínimo de significado lexical. Na tirinha abaixo, onde o personagem Calvin (o menino) faz uma crítica aos hábitos irracionais do ser humano que atenta contra a natureza (representados pela imagem da árvore cortada), temos um exemplo de adição em "vez-es". O elemento mínimo de significado lexical é o morfema vez, que com o acréscimo do morfema -es ganha o sentido de plural, assim sendo mais de uma vez. Ou seja, o que acontecia num momento, passa a acontecer em vários momentos. 



Devem estar se lembrando de uma postagem antiga Dos Afixos, pois bem eles estão contidos neste processo de adição (sugiro que entrem no link para relembrar).

Agora vamos tratar dos processos morfológicos de Reduplicação, que nada mais é do que uma repetição de alguns fonemas da base, com ou sem modificação desta, podendo aparecer antes, no meio ou depois da raiz. Em algumas línguas esta repetição tem a função de flexionar verbos, noutras apenas tem o sentido de intensidade, iteração e distribuição. No português temos um exemplo clássico deste tipo de processo, é o que ocorre quando somos pequenos e chamamos os nossos "papais" e "mamães", ou quando nos machucávamos e falávamos "dodói" ou quando queríamos a "pepeta" (chupeta).

O processo da Alternância se da quando alguns elementos da base são substituídos por outros. Nada bagunçado, porém dentro de uma relação de traços fonológicos aproximados, permitindo esta alternância, como em: pus/pôs; fiz/fez; fui/foi; olho/olhos, onde o "ô" no singular alterna com o "o" mais aberto. 

E por fim temos o caso de Subtração, onde um morfema cai, ou seja, some para a criação do um novo significante. É o que acontece em alguns casos em que para a formação de femininos, subtrai-se morfemas dos masculinos: orfão/orfã; irmão/irmã; campeão/campeã. 

Importante ressaltar que mais de um processo pode ocorrer ao mesmo tempo. 

Bibliografia:
Petter, Margarida Maria Taddoni. "Morfologia" em Introdução à Linguística II: princípios de análise/ José Luiz Fiorin. 4.ed., 3ª reimpressão - São Paulo: Contexto, 2010.    



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Das Vogais Temáticas

Vogais temáticas são vogais que se juntam a um radical, formando assim uma base a qual se anexa as desinências. Marcam classes de nomes e verbos. As vogais temáticas que marcam os nomes são -a, -e e -o.  Porém aqui devemos, mais uma fez, ter atenção na diferença entre as vogais temáticas nominais -a e -o e as desinências de gênero -o e -a.
Acontece que enquanto as desinências de gênero podem substituir um ao outro causando apenas a mudança   no sentido de gênero e nada mais, como no caso garoto/garota, o mesmo não ocorre com as vogais temáticas que servem especificamente para dado radical, por exemplo: força/forço. A mudança que aqui ocorreu não foi no sentido de gênero, ela foi além. O que era força, substantivo feminino e significa "Toda causa capaz de agir, de produzir um efeito"(Dicionário do Aurélio), com a mudança para forço temos a conjugação da primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo forçar. Sendo assim quando NÃO houver possibilidade de mudança do -o para -a, mudando-se apenas sentido do gênero, teremos então uma vogal temática nominal.
Temos também as vogais temáticas verbais, que são -a- (1ª conjugação), -e- (2ª conj.) e -i- (3ª conj.). É fácil identificá-los nos verbos infinitivos antes do -r desinencial de infinitivo.
Quando conjugados os verbos é comum que as vogais temáticas apresentem variantes: -e- e -o- para a vogal temática da primeira conjugação (respectivamente para a primeira e terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: am-e-i/ am-o-u); e -i- para a segunda conjugação na primeira pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo e do particípio (vend-i-a, vend-i-do, vend-i).
Dentro das formas verbais temos que entender algumas regras fonológicas, no caso a elisão e a crase.
A elisão acontece quando uma vogal átona (fraca) cai (some) diante da vogal da desinência, é o que acontece em:
Amo = ama + o (Desinência Número-Pessoal).
A crase acontece quando a vogal temática se junta a vogal inicial da desinência:
Vendia = Vend + i + ia.
Em adjetivos formados a partir de verbos também se encontra a vogal temática verbal: compr-a-dor.
E em alguns substantivos deverbais pode ocorrer de haver duas vogais temáticas, uma verbal e outra nominal: arm-a-ment-o, em que -a- é a vogal temática verbal e -o a nominal.

Bibliografia:
KEDHI, Valter. MORFEMAS DO PORTUGUÊS. 5ª EDIÇÃO  

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Das Desinências.

As desinências são os morfemas terminais das palavras variáveis, indicam as flexões de gênero e número (desinencias nominais) e de modo-tempo e número-pessoa (desinencias verais). Esta flexão se dá para que os nomes ou os verbos, em uma frase, possuam uma concordância com o sujeito. Assim, nesta relação, as desinencias são morfemas que não se podem dispensar, como no caso do grau.

EX: A concha branquinha. A substituição de "branquinha" por "branca" ou "muito branca" não altera a concordância da frase, ou seja, -inha não é um elemento obrigatorio. E sem a orbigatoriedade deste elemento, o grau não constitui caso de flexão, assim -inha é sufixo e estamos diante de uma derivação sufixal.
(o sufixo, diferente do morfema também possibilita a criação de uma nova palavra, coisa que a desinencia não faz)

Desinencia de genero
Há três formas:
Flexão: Garoto/Garota
Derivação: Conde/Condessa , quando uma das formas é formada pelo acréscimo de um sufixo ao radical.
Heteronimia: Bode/Cabra, caso de masculino e feminino representados por dois vocábulos completamente diferentes.
No caso da flexão, costuma-se dizer que há uma forma masculina -o que se opõe a uma forma feminina -a.

Desinencia de número
Há duas formas: singular e o plural.
A desinencia da forma singular é o vazio, ou seja, a palavra em si sem nada. Ex: Mesa, colher, lápis.
A desinencia da forma plural são duas: -s e -es, esta última desinência se aplica às palavras que no singular apresentam suas terminações em -z ou -r. No caso das palavras que já possuem o s no final, se verifica a sua forma pela concordância. Ex: Mesas, Colheres , Os lápis.

Desinencias Verbais:
Há dois tipos: As que exprimem modo e tempo e as que indicam numero e pessoa.
as desinencias modo-temporais procedem as desinencias numero-pessoais.
As modo-temporais tem a função de flexionar o verbo a um tempo: passado, presente e futuro. E a apresentar a que modo dentro deste tempo. Já as numero-pessoais, indicam a pessoa em que o verbo está flexionado e se ela é do singular ou do plural.